What syllable are you seeking,
Vocalissimus,
in the distances of sleep?
Speek it.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio D`Água, 2006
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Dois em Norfolk
Aparem a relva do cemitério, pretos,
Estudem os símbolos e os requiescats,
Mas deixem uma cama sob os mirtos.
Este esqueleto teve uma filha e esse um filho.
No seu tempo, este aqui teve pouco que contar,
A palavra mais doce apodrecia no seu crânio.
Para ele a lua era sempre na Escandinávia
E a filha dele era uma coisa estrangeira.
E esse aí nunca foi um homem de coração.
Fazer um filho foi só o dever cumprido.
Quando a música do rapaz jorrou como uma fonte,
Louvou a Johann Sebastian, como devia.
As sombras negras das magnólias fúnebres
Estão cheias de canções de Jamanda e Carlota;
O filho e a filha, que vêm chegando das trevas,
Ele para o seio ardente dele e ela para os seus braços.
E os dois nunca se encontram no ar prenhe do Verão
Nem se tocam, mesmo tocando-se tão de perto,
Sem uma saída nos intervalos dos seus beijos.
Façam uma cama e deitem nela os lírios.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio D`Água, 2006
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
Estudem os símbolos e os requiescats,
Mas deixem uma cama sob os mirtos.
Este esqueleto teve uma filha e esse um filho.
No seu tempo, este aqui teve pouco que contar,
A palavra mais doce apodrecia no seu crânio.
Para ele a lua era sempre na Escandinávia
E a filha dele era uma coisa estrangeira.
E esse aí nunca foi um homem de coração.
Fazer um filho foi só o dever cumprido.
Quando a música do rapaz jorrou como uma fonte,
Louvou a Johann Sebastian, como devia.
As sombras negras das magnólias fúnebres
Estão cheias de canções de Jamanda e Carlota;
O filho e a filha, que vêm chegando das trevas,
Ele para o seio ardente dele e ela para os seus braços.
E os dois nunca se encontram no ar prenhe do Verão
Nem se tocam, mesmo tocando-se tão de perto,
Sem uma saída nos intervalos dos seus beijos.
Façam uma cama e deitem nela os lírios.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio D`Água, 2006
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
Paráfrase Lunar
A lua é a mãe do patético e da piedade.
Quando, no mais fastidioso fim de Novembro,
A sua velha luz se alonga pelos ramos,
Frágil, lentamente, dependendo deles;
Quando o corpo de Jesus queda num palor,
Humanamente próximo, e a figura de Maria,
Tocada pelo orvalho, se recolhe num abrigo
Feito de folhas, que apodreceram e caíram;
Quando sobre as casas, uma ilusão dourada
Traz de volta uma época primitiva de paz
E sonhos pacificadores às pantufas no escuro –
A lua é a mãe do patético e da piedade.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio D`Água, 2006
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
Quando, no mais fastidioso fim de Novembro,
A sua velha luz se alonga pelos ramos,
Frágil, lentamente, dependendo deles;
Quando o corpo de Jesus queda num palor,
Humanamente próximo, e a figura de Maria,
Tocada pelo orvalho, se recolhe num abrigo
Feito de folhas, que apodreceram e caíram;
Quando sobre as casas, uma ilusão dourada
Traz de volta uma época primitiva de paz
E sonhos pacificadores às pantufas no escuro –
A lua é a mãe do patético e da piedade.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio D`Água, 2006
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
XIX
Quem me dera que pudesse reduzir o monstro a
Mim mesmo, e pudesse então ser eu mesmo
Face ao monstro, ser mais do que parte
Dele, mais do que o monstruoso tocador de
Um dos seus monstruosos alaúdes, não ser
Só, mas reduzir o monstro e ser,
Duas coisas, as duas em simultâneo numa,
E tocar do monstro e de mim mesmo,
Ou melhor, não de mim mesmo de modo algum,
Mas de algo como a sua inteligência,
Sendo o leão no alaúde
Perante o leão encerrado em pedra.
Wallace Stevens
O homem da viola azul
Relógio d'Água, 2005
Tradução de Maria Adelaide Ramos
Mim mesmo, e pudesse então ser eu mesmo
Face ao monstro, ser mais do que parte
Dele, mais do que o monstruoso tocador de
Um dos seus monstruosos alaúdes, não ser
Só, mas reduzir o monstro e ser,
Duas coisas, as duas em simultâneo numa,
E tocar do monstro e de mim mesmo,
Ou melhor, não de mim mesmo de modo algum,
Mas de algo como a sua inteligência,
Sendo o leão no alaúde
Perante o leão encerrado em pedra.
Wallace Stevens
O homem da viola azul
Relógio d'Água, 2005
Tradução de Maria Adelaide Ramos
As rãs comem borboletas. As cobras comem rãs. Os porcos comem cobras. Os homens comem porcos.
É verdade que os rios farejavam como suínos,
Foçando nas margens, até parecerem
Sons de ventre suaves em sonolentas fossas,
Que o ar estava pesado do bafo destes suínos,
O bafo de um túrgido verão, e
Pesado do retumbar dos trovões,
Que o homem que ergueu esta cabana, plantou
Este campo, e zelou por ele algum tempo,
Desconhecia os truques das imagens,
Que as horas dos seus dias áridos, indolentes,
Grotescos com este farejar nas margens,
Esta sonolência e este retumbar,
Pareciam amamentar-se da sua árida existência,
Como os rios sendo suínos se amamentavam
Correndo para o mar para as goelas do mar.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio d'Água, 2006.
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
Foçando nas margens, até parecerem
Sons de ventre suaves em sonolentas fossas,
Que o ar estava pesado do bafo destes suínos,
O bafo de um túrgido verão, e
Pesado do retumbar dos trovões,
Que o homem que ergueu esta cabana, plantou
Este campo, e zelou por ele algum tempo,
Desconhecia os truques das imagens,
Que as horas dos seus dias áridos, indolentes,
Grotescos com este farejar nas margens,
Esta sonolência e este retumbar,
Pareciam amamentar-se da sua árida existência,
Como os rios sendo suínos se amamentavam
Correndo para o mar para as goelas do mar.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio d'Água, 2006.
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
Da Miséria de Don Joost
Terminei o meu combate com o sol;
E o meu corpo, o velho animal,
Não conhece mais nada.
As poderosas estações geraram e mataram,
E foram elas mesmas os génios
Dos seus próprios fins.
Oh, mas o ser verdadeiro da tempestade
Do sol e de escravos, de geração e de morte,
O velho animal,
Os sentidos e a emoção, o som verdadeiro
E a vista, e tudo o que foi da tempestade,
Não conhece mais nada.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio d'Água, 2006.
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
E o meu corpo, o velho animal,
Não conhece mais nada.
As poderosas estações geraram e mataram,
E foram elas mesmas os génios
Dos seus próprios fins.
Oh, mas o ser verdadeiro da tempestade
Do sol e de escravos, de geração e de morte,
O velho animal,
Os sentidos e a emoção, o som verdadeiro
E a vista, e tudo o que foi da tempestade,
Não conhece mais nada.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio d'Água, 2006.
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
O Lugar dos Solitários
Que o lugar dos solitários
Seja um lugar de ondulação perpétua.
Quer seja em pleno mar
Na negra e verde nora,
Ou nas praias,
Que nunca cesse
O movimento, ou o ruído do movimento,
O renovar do ruído
E múltiplos prolongamentos;
E, sobretudo, do movimento das ideias
E da sua incansável iteração,
No lugar dos solitários,
Que há-de ser um lugar de ondulação perpétua.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio d'Água, 2006.
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
Seja um lugar de ondulação perpétua.
Quer seja em pleno mar
Na negra e verde nora,
Ou nas praias,
Que nunca cesse
O movimento, ou o ruído do movimento,
O renovar do ruído
E múltiplos prolongamentos;
E, sobretudo, do movimento das ideias
E da sua incansável iteração,
No lugar dos solitários,
Que há-de ser um lugar de ondulação perpétua.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio d'Água, 2006.
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
O sentido simples das coisas
Depois das folhas terem caído, regressamos
A um sentido simples das coisas. É como se
Tivéssemos chegado ao fim da imaginação,
Inanimados num inerte savoir.
É difícil até escolher o adjectivo
Para este frio vazio, esta tristeza sem causa.
A grandiosa estrutura tornou-se numa casa menor.
Nenhum turbante caminha através dos soalhos degradados.
A estufa nunca precisou tanto de tinta.
A chaminé tem cinquenta anos e está inclinada para um lado.
Falhou um esforço fantástico, uma repetição
Numa repetitividade de homens e moscas.
Contudo a ausência da imaginação tinha
Ela própria de ser imaginada. O lago grandioso,
O seu sentido simples, sem reflexos, folhas,
Lama, água como vidro sujo, expressando silêncio
De certo tipo, silêncio de um rato saindo para ver,
O lago grandioso e a sua imensidade de nenúfares, tudo isto
Tinha de ser imaginado como um conhecimento inevitável,
Exigido, como uma necessidade exige.
Wallace Stevens
Ficção Suprema
Assírio & Alvim, 1991
Tradução de Luísa Maria Lucas Queiroz de Campos
A um sentido simples das coisas. É como se
Tivéssemos chegado ao fim da imaginação,
Inanimados num inerte savoir.
É difícil até escolher o adjectivo
Para este frio vazio, esta tristeza sem causa.
A grandiosa estrutura tornou-se numa casa menor.
Nenhum turbante caminha através dos soalhos degradados.
A estufa nunca precisou tanto de tinta.
A chaminé tem cinquenta anos e está inclinada para um lado.
Falhou um esforço fantástico, uma repetição
Numa repetitividade de homens e moscas.
Contudo a ausência da imaginação tinha
Ela própria de ser imaginada. O lago grandioso,
O seu sentido simples, sem reflexos, folhas,
Lama, água como vidro sujo, expressando silêncio
De certo tipo, silêncio de um rato saindo para ver,
O lago grandioso e a sua imensidade de nenúfares, tudo isto
Tinha de ser imaginado como um conhecimento inevitável,
Exigido, como uma necessidade exige.
Wallace Stevens
Ficção Suprema
Assírio & Alvim, 1991
Tradução de Luísa Maria Lucas Queiroz de Campos
As cortinas na casa do metafísico
Acontece que a ondulação destas cortinas
Está cheia de largos movimentos; como o lento
Esvaziar da distância; ou como nuvens
Inseparáveis das suas tardes;
Ou a mudança da luz, o gotejar
Do silêncio, o sono largo e a solidão
Da noite, em que todo o movimento
Está para além de nós, à medida que o firmamento,
Subindo e descendo, desvela
A imensidão final, ousada visão.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio D`Água, 2006
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
Está cheia de largos movimentos; como o lento
Esvaziar da distância; ou como nuvens
Inseparáveis das suas tardes;
Ou a mudança da luz, o gotejar
Do silêncio, o sono largo e a solidão
Da noite, em que todo o movimento
Está para além de nós, à medida que o firmamento,
Subindo e descendo, desvela
A imensidão final, ousada visão.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio D`Água, 2006
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
IV
E o que eu soube que tu sentias
Veio então.
Terra monótona que eu vi transformar-se
Em esferas ilimitadas de ti,
E esse animal branco, tão magro,
Virou Vicentina,
Virou celeste Vicentina,
E esse animal branco, tão magro,
Virou celeste, celeste Vicentina.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio D`Água, 2006
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
Veio então.
Terra monótona que eu vi transformar-se
Em esferas ilimitadas de ti,
E esse animal branco, tão magro,
Virou Vicentina,
Virou celeste Vicentina,
E esse animal branco, tão magro,
Virou celeste, celeste Vicentina.
Wallace Stevens
Harmónio
Relógio D`Água, 2006
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
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