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As meninas

Chegam com os saltos sujos da lama dos parques,
um perfume espesso de flores venenosas.
Chegam de óculos escuros, radiantes, despenteadas;
a noite cobre-as com um manto escarlate.
Tomam licores densos com ares de tragédia.
Têm nomes de deusa, de colónia ou de gato.
Não são invulneráveis a histórias tristes
e fogem de madrugada, como luas esquivas.


Felipe Benítez Reyes
Tradução A.M.

Miséria da poesia

A lenta concepção de uma metáfora
ou então essa tremura que fica às vezes
depois de escrever uns versos
justificam uma vida? Sei que não.
Mas tão pouco ignoro que, mesmo sem serem
cifra de uma existência, essas palavras
dirão de quem dispôs a sua harmonia
que soube ordenar um mundo. E basta isso?
Os anos vão passando e sei que não.
Há nesta luta alguma grandeza
e de certo modo tenho
a certeza difusa de que existe
um verso contendo esse segredo
trivial e abominável da rosa:
a beleza é o rosto da morte.
Se eu encontrasse esse verso, bastaria?
Talvez não. A sua verdade chegaria
para criar um mundo, para dar
à noite nova cor, um anel de fogo à lua,
alma e olhos a Galatea e alguns mares
de neve aos desertos? Sei que não.


Felipe Benítez Reyes
Tradução A.M.