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Promessa

Talvez fossem melhores
os nossos corações quando eram frágeis
e um golpe de mar, ou a noite de Julho
puderam abrir as caladas feridas
que agora, e para sempre, chamaremos saudades.
Talvez fossem melhores quando eram
como regatos ligeiros ou chuvosas tardes
que molhavam a infância e partiam
um domingo qualquer; um vale aberto,
areais imensos, aquela varanda
parada diante de polidos gerânios.
Não escolheram barcos para ir para longe;
nem a brisa leve de um verão
que os apagasse, com seu fogo insubmisso.
Semelhantes aos homens, desejaram
as árvores antigas desta terra.


Ramiro Fonte
Tradução A.M.

Luces do mediodía

O mediodía escribe
As mellores palabras sobre a noite;

No seu xardín a flor
Amígase coa estrela insobornable.

Nas copas en que, xuntos, afogamos
As augas moribundas doutras lúas,
Xa estaba aquela luz
Serena para sempre, presentida.

Aqueles ollos meus
Que nunca se cansaron de mirarte.

Ramiro Fonte
Luz do mediodía
(1995)

Terra

Diz-lhes que te amava,
sabia-o a cerdeira que dá flor em Abril
e o destroço que nos chega às praias
com sua efémera lenda de rumos.
Mas jamais entendi esse rancor
que oprime o coração das tuas gentes;
que oferece mel quando se pede água,
ácido pão quando uma voz se pede.
Diz-lhes que te amava.
Muita vez em sonhos
passeio por esses lugares onde cresceu um dia
a imemorial nostalgia dos Invernos
como crescem os meninos com o cair dos meses.
Lentamente me dei ao mundo,
inutilmente,
com a propensão ao desamparo que têm as pessoas
aos usos do esquecimento. Mas diz-lhes
que te amava, mãe, que te amava.



Ramiro Fonte
Pasa um Segredo, 1988
Tradução A.M.