"haverá guerras como nunca houve
não sou um homem, sou dinamite" Friedrich
Nietzsche
Como a de Lidiwina de Sheidan
a minha carne desfaz-se
e a pólvora desfaz a minha figura
como se nunca tivesse existido
como se fosse tão só a figura de mim próprio
ah "ideal ich"
"oh Fleshig, mon pauvre Fleshig":
assim falava Schroeber na sombra
do Filho de si próprio, do vento
cruel que me desgarra
como se só estivesse feito para o vento.
Leopoldo María Panero
Conversação
Moby Dick - Inimigo Rumor, 2003
Tradução de Pedro Serra
Mostrar mensagens com a etiqueta leopoldo maría panero. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta leopoldo maría panero. Mostrar todas as mensagens
À minha mãe
Escuta, à noite, como a seda se rasga
e a chávena de chá cai sem ruído no chão
como por magia
tu que tens só doces palavras para os mortos
e levas na mão um ramo de flores,
à espera da Morte,
que tomba de seu corcel, ferida
por um cavaleiro que a prende com seus lábios brilhantes,
e chora pelas noites a pensar que o amavas,
e diz vem para o jardim, olha as estrelas como caem,
vamos falar em sossego, que ninguém nos ouça,
vem, escuta, falemos dos móveis,
tenho uma rosa tatuada no queixo
e um bastão com punho em forma de pato,
dizem que chove por nós e é nossa a neve
e agora que o poema se fina
digo-te como criança, vem,
eu fiz um diadema
(vem para o jardim e verás como nos abraça a noite).
Leopoldo María Panero
Poemas del Manicomio de Mondragón
Hiperion, 1997
Tradução A.M.
e a chávena de chá cai sem ruído no chão
como por magia
tu que tens só doces palavras para os mortos
e levas na mão um ramo de flores,
à espera da Morte,
que tomba de seu corcel, ferida
por um cavaleiro que a prende com seus lábios brilhantes,
e chora pelas noites a pensar que o amavas,
e diz vem para o jardim, olha as estrelas como caem,
vamos falar em sossego, que ninguém nos ouça,
vem, escuta, falemos dos móveis,
tenho uma rosa tatuada no queixo
e um bastão com punho em forma de pato,
dizem que chove por nós e é nossa a neve
e agora que o poema se fina
digo-te como criança, vem,
eu fiz um diadema
(vem para o jardim e verás como nos abraça a noite).
Leopoldo María Panero
Poemas del Manicomio de Mondragón
Hiperion, 1997
Tradução A.M.
Himno a Satán
«Ten piedad de mi larga miseria»
Charles Baudelaire
Tú que eres tan sólo
una herida en la pared
y un rasguño en la frente
que induce suavemente a la muerte:
tú ayudas a los débiles
mejor que los cristianos
tú vienes de las estrellas
y odias esta tierra
donde moribundos descalzos
se dan la mano día tras día
buscando entre la mierda
la razón de su vida;
yo que nací del excremento
te amo
y amo posar sobre tus manos delicadas mis heces.
Tu símbolo es el ciervo
y el mío la luna:
que caiga la lluvia sobre
nuestras faces
uniéndonos en un abrazo
silencioso y cruel en que
como el suicidio, sueño
sin ángeles ni mujeres
desnudo de todo
salvo de tu nombre
de tus besos en mi ano
y tus caricias en mi cabeza calva
rociaremos con vino, orina y sangre
las iglesias
regalo de los magos
y debajo del crucifijo
aullaremos.
Leopoldo María Panero
Poemas Del Manicomio De Mondragon
Hiperion, 1997
A mi madre
(reivindicación de una hermosura)
Escucha en las noches cómo se rasga la seda
y cae sin ruido la taza de té al suelo
como una magia
tú que sólo palabras dulces tienes para los muertos
y un manojo de flores llevas en la mano
para esperar a la Muerte
que cae de su corcel, herida
por un caballero que la apresa con sus labios brillantes
y llora por las noches pensando que le amabas,
y dice sal al jardín y contempla cómo caen las estrellas
y hablemos quedamente para que nadie nos escuche
ven, escúchame hablemos de nuestros muebles
tengo una rosa tatuada en la mejilla y un bastón con
empuñadura en forma de pato
y dicen que llueve por nosotros y que la nieve es nuestra
y ahora que el poema expira
te digo como un niño, ven
he construido una diadema
(sal al jardín y verás cómo la noche nos envuelve)
Leopoldo María Panero
Poemas Del Manicomio De Mondragon
Hiperion, 1997
Escucha en las noches cómo se rasga la seda
y cae sin ruido la taza de té al suelo
como una magia
tú que sólo palabras dulces tienes para los muertos
y un manojo de flores llevas en la mano
para esperar a la Muerte
que cae de su corcel, herida
por un caballero que la apresa con sus labios brillantes
y llora por las noches pensando que le amabas,
y dice sal al jardín y contempla cómo caen las estrellas
y hablemos quedamente para que nadie nos escuche
ven, escúchame hablemos de nuestros muebles
tengo una rosa tatuada en la mejilla y un bastón con
empuñadura en forma de pato
y dicen que llueve por nosotros y que la nieve es nuestra
y ahora que el poema expira
te digo como un niño, ven
he construido una diadema
(sal al jardín y verás cómo la noche nos envuelve)
Leopoldo María Panero
Poemas Del Manicomio De Mondragon
Hiperion, 1997
A Belial
Quando no crepúsculo as velhas soluçam
acorres tu Belial
a apagar os pecados com uma esponja de vinho
e a converter em vinho o pão dourado
o pão que doura o sofrimento dos loucos
o amargo pão da morte
e escuto a vir os teus passos, a vir ajudar-me
e respondes, só tu respondes
a esse grito no quarto às escuras.
Leopoldo María Panero
Guarida de un animal que no existe
Visor Libros, 2000
Tradução A.M.
acorres tu Belial
a apagar os pecados com uma esponja de vinho
e a converter em vinho o pão dourado
o pão que doura o sofrimento dos loucos
o amargo pão da morte
e escuto a vir os teus passos, a vir ajudar-me
e respondes, só tu respondes
a esse grito no quarto às escuras.
Leopoldo María Panero
Guarida de un animal que no existe
Visor Libros, 2000
Tradução A.M.
A Belial
He escrito estos versos
para que vuelvan los dioses.
________ RICARDO REIS
Cuando en el crespúsculo las ancianas sollozan,
acudes tú Belial
a borrar con una esponja de vino los pecados
Y a convertir en vino el pan dorado
el pan que dora el sufrimiento de los locos
el amargo pan de la muerte
y escucho tus pasos venir, venir a ayudarme
y respondes, tú solo respondes
a ese grito en la habitación a oscuras.
Leopoldo María Panero
Guarida de un animal que no existe
Visor Libros, 2000
A francisco
Suave como o perigo atravessaste um dia
com a tua mão impossível a frágil meia-noite
e a tua mão valia a minha vida, e muitas vidas
e os teus lábios quase mudos diziam aquilo
que era o pensamento.
Passei uma noite colado a ti como a uma árvore de vida
porque eras suave como o perigo,
como o perigo de viver de novo.
Leopoldo María Panero
Tradução G.S.
com a tua mão impossível a frágil meia-noite
e a tua mão valia a minha vida, e muitas vidas
e os teus lábios quase mudos diziam aquilo
que era o pensamento.
Passei uma noite colado a ti como a uma árvore de vida
porque eras suave como o perigo,
como o perigo de viver de novo.
Leopoldo María Panero
Tradução G.S.
O dia em que se acaba a canção
Quando o sentido, esse ancião que te falava
nas horas de abandono, morre
olhas então
a mulher amada como para um velho
e choras.
E queda
órfão o poema, sem pai nem mãe,
e odeia-lo,
tens horror ao filho pendurado
como um aborto entre as pernas, balouçando-se ali
como fio dependurado ou teia-de-aranha,
quando o sentido morre,
como uma criança
castrada por um cego,
no amparo da noite feroz, da noite:
como da voz de uma criança perdida uivando
no vento
o dia em que se acaba a canção, deixando
apenas um pouco de tabaco na mão
e a cidade agora, as
cidades convertidas em vastas plantações de tabaco,
e a mão
assombrada toca a boca sem lábios
o dia em que se acaba a canção, e se perde
o homem que a si mesmo se dava o nome de alguém,
ao dar a volta a uma esquina, um entardecer sem música.
O dia em que se acaba a canção mesmo a dor
é apenas um pouco de tabaco na mão
e as palavras
são todas de antanho,e de outro país, e caem
da boca sem dentes como um líquido
semelhante à bílis,
o dia
em que morre o sentido, esse
assassino que falava ao crepúsculo e pela
insónia sussurrava palavras e coisas,
o dia
em que se acaba a canção olhas
a mulher amada como para um velho, e com a cabeça entre as pernas,
frente ao mundo abortado, choras.
Leopoldo María Panero
nas horas de abandono, morre
olhas então
a mulher amada como para um velho
e choras.
E queda
órfão o poema, sem pai nem mãe,
e odeia-lo,
tens horror ao filho pendurado
como um aborto entre as pernas, balouçando-se ali
como fio dependurado ou teia-de-aranha,
quando o sentido morre,
como uma criança
castrada por um cego,
no amparo da noite feroz, da noite:
como da voz de uma criança perdida uivando
no vento
o dia em que se acaba a canção, deixando
apenas um pouco de tabaco na mão
e a cidade agora, as
cidades convertidas em vastas plantações de tabaco,
e a mão
assombrada toca a boca sem lábios
o dia em que se acaba a canção, e se perde
o homem que a si mesmo se dava o nome de alguém,
ao dar a volta a uma esquina, um entardecer sem música.
O dia em que se acaba a canção mesmo a dor
é apenas um pouco de tabaco na mão
e as palavras
são todas de antanho,e de outro país, e caem
da boca sem dentes como um líquido
semelhante à bílis,
o dia
em que morre o sentido, esse
assassino que falava ao crepúsculo e pela
insónia sussurrava palavras e coisas,
o dia
em que se acaba a canção olhas
a mulher amada como para um velho, e com a cabeça entre as pernas,
frente ao mundo abortado, choras.
Leopoldo María Panero
Necrofilia
O acto amoroso é o mais parecido
a um assassinato.
Na cama, num gozo terrível, trata-se de apagar
a alma daquele que está,
homem ou mulher,
debaixo.
É devido a isso que não nos olhámos.
Ejacular é sujar o corpo,
e penetrar é humilhar com
a verga a
erecção de outro eu.
Apagar ou ser apagados, tanto faz, mas
num instante, ir-se
deixá-lo
uma vez mais
entre os seus lábios
Leopoldo María Panero
a um assassinato.
Na cama, num gozo terrível, trata-se de apagar
a alma daquele que está,
homem ou mulher,
debaixo.
É devido a isso que não nos olhámos.
Ejacular é sujar o corpo,
e penetrar é humilhar com
a verga a
erecção de outro eu.
Apagar ou ser apagados, tanto faz, mas
num instante, ir-se
deixá-lo
uma vez mais
entre os seus lábios
Leopoldo María Panero
Subscrever:
Mensagens (Atom)