caminho sobre a música
com o cuidado redondo de não me molhar
só
porque abracei a sinfonia dos meus amigos
vozes
vozes depauperando o meu presente passo
caminho pelos pingos do piano
de mãos nos bolsos
e
envergo um universo cheio de musgo húmido
onde os iões se deitam a zunir
quando será
o meu segundo nascimento?
os átomos fazem-me de propósito para levar palavras hialinas
certamente proibido de as habitar
também levo acordes nos bolsos
levo as mãos mais pequeninas da mais esdrúxula
mulher
recebo o cuidado terno de perder as linhas
mesmo que o cabelo desalinhado confunda os apontamentos
com que mexo a vida
numa vaga paisagem apresentada de teclas
tão esconsa quanto um meteoro
Pedro Outono
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Ela quer que eu escreva um poema.
Que o papel vinha, comera-me vontade,
sabes, as letras estão escondidas
como a hecatombe atrás do silêncio,
e por jogo quisera ultimar o ponto.
Vês, a palavra sai, e surpreende, me.
O problema do fundamento;
(este poema já vai enorme).
Pouca força houve, intensão, propósito,
mas ele forma-se (por causa dela)
na discussão do que tenho para dizer.
O poema acaba por ser
o que especulo que ele seja: que será o poema?
Escrevo-lhe, e que seja. O poema é.
Liberdade.
(o poema já vai enorme!).
À volta da ideia de poema,
as palavras são poema.
Até é perigoso adiantar mais:
a música e o fumo do bar, as pessoas…
Eu tenho imensos poemas
em mim que podem nascer por pedido dela.
No meu imenso mundo, as imensas
partes
que nem eu sei.
Surpreendido de ser;
não admira, o império humano.
pedro outono
Poemas de um Quarto Fechado
A Mar Arte, 1995
Que o papel vinha, comera-me vontade,
sabes, as letras estão escondidas
como a hecatombe atrás do silêncio,
e por jogo quisera ultimar o ponto.
Vês, a palavra sai, e surpreende, me.
O problema do fundamento;
(este poema já vai enorme).
Pouca força houve, intensão, propósito,
mas ele forma-se (por causa dela)
na discussão do que tenho para dizer.
O poema acaba por ser
o que especulo que ele seja: que será o poema?
Escrevo-lhe, e que seja. O poema é.
Liberdade.
(o poema já vai enorme!).
À volta da ideia de poema,
as palavras são poema.
Até é perigoso adiantar mais:
a música e o fumo do bar, as pessoas…
Eu tenho imensos poemas
em mim que podem nascer por pedido dela.
No meu imenso mundo, as imensas
partes
que nem eu sei.
Surpreendido de ser;
não admira, o império humano.
pedro outono
Poemas de um Quarto Fechado
A Mar Arte, 1995
um gajo fica com a manhã no café
e por mais que mexa
não a torna mais doce
o aroma remoinha a respiração
com a fibra amansada
pelo cansaço
abandona-se a chávena diária
nos olhos sem obra
até que as reticências enchem a página
olhar as mãos ao fim desta derrapagem
é como uma oração ignorante
ou uivo de animal
ter medo é ter mãos
se esses cinco pares de dedos
vociferam mais alto
que as gaivotas dos motivos
pedro outono
Quem será que escreve os meus textos?
Palimage, 2002
e por mais que mexa
não a torna mais doce
o aroma remoinha a respiração
com a fibra amansada
pelo cansaço
abandona-se a chávena diária
nos olhos sem obra
até que as reticências enchem a página
olhar as mãos ao fim desta derrapagem
é como uma oração ignorante
ou uivo de animal
ter medo é ter mãos
se esses cinco pares de dedos
vociferam mais alto
que as gaivotas dos motivos
pedro outono
Quem será que escreve os meus textos?
Palimage, 2002
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