A música vinha duma mansidão de consciência
era como que uma cadeira sentada sem
um não falar de coisa alguma com a palavra por baixo
nada fazia prever que o vento fosse de azul para cima
e que a pose uma nostalgia de movimento deambulante
era-se como se tudo por cima duma vontade de fazer uma asa
nós não movimentamos o espaço mas a vida erege a cifra
constrói por dentro um vocábulo sem se saber
como o que será
era um sinal que vinha duma atmosfera simplificante
silêncio como um pássaro a falar do comprimento.
António Gancho
O Ar da Manhã
Assírio & Alvim, 2006
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Resigno-me à função
Isto de fazer poesia
não tem não mais que fazê-la.
Põe-se o papel, pega-se no lápis
e à moela da inspiração
falemos assim, digamos assim
não se diz não.
Começa-se não mal
que se comece bem
depois de tal
vem que as imagens
ou as comparações
escrevem e metem-se no meio
do que tu supões.
Depois dentre nós dois
ou o Céu ou o Inferno
ou Deus ou o Diabo
a bela ou o quadritérnio
inspiro-me, inspiras-te,
escrevo, começo e acabo.
Não abro o coração
em dois
que não vem depois
mais sangue fluido
a falar.
Abra-se antes na função
poética
coisas como o mar
o luar, o acabar das horas
e dos dias, na poesia romântica,
e na quântica outras
coisas, outras noções,
as quantas são que não
na romântica
aqui nesta já as leis
do coração, a função
entre dois corações
mas fisiologicamente
e na romântica
apaixonadamente mais quente.
Resigno-me à função
de fazer poesia.
Esfria-me é
o condão muitas vezes
mas a teses como
esta ou uma tese
qualquer
quero fazer eu
um poema também.
Resigno-me à função.
Submeto-me à função.
Subjugo-me à função.
E não vou mais longe.
Escrevo. Poesia.
O hábito faz o monge
e eu um dia vou longe
se escrever muito em poesia.
Doutra maneira dizia que
vale mais fazer a poesia
que dizê-la
que ela de guia tem
e serve-se de bela.
António Gancho
O Ar da Manhã
Assírio & Alvim, 2006
não tem não mais que fazê-la.
Põe-se o papel, pega-se no lápis
e à moela da inspiração
falemos assim, digamos assim
não se diz não.
Começa-se não mal
que se comece bem
depois de tal
vem que as imagens
ou as comparações
escrevem e metem-se no meio
do que tu supões.
Depois dentre nós dois
ou o Céu ou o Inferno
ou Deus ou o Diabo
a bela ou o quadritérnio
inspiro-me, inspiras-te,
escrevo, começo e acabo.
Não abro o coração
em dois
que não vem depois
mais sangue fluido
a falar.
Abra-se antes na função
poética
coisas como o mar
o luar, o acabar das horas
e dos dias, na poesia romântica,
e na quântica outras
coisas, outras noções,
as quantas são que não
na romântica
aqui nesta já as leis
do coração, a função
entre dois corações
mas fisiologicamente
e na romântica
apaixonadamente mais quente.
Resigno-me à função
de fazer poesia.
Esfria-me é
o condão muitas vezes
mas a teses como
esta ou uma tese
qualquer
quero fazer eu
um poema também.
Resigno-me à função.
Submeto-me à função.
Subjugo-me à função.
E não vou mais longe.
Escrevo. Poesia.
O hábito faz o monge
e eu um dia vou longe
se escrever muito em poesia.
Doutra maneira dizia que
vale mais fazer a poesia
que dizê-la
que ela de guia tem
e serve-se de bela.
António Gancho
O Ar da Manhã
Assírio & Alvim, 2006
Abertura
Eu abria o rádio
eu abria o aparelho
era uma flor branca que eu abria
de sopro
eu soprava e eu abria a flor
A flor tocava música com as várias mãos
das pétalas
A flor tocava uma simbolização dum tempo
caído podre de espera de cor branca
O tempo espera-se em pintar-se
de branco
para cegar uma cor
mas a minha flor abria-se de
pétalas
e as várias mãos escreviam um
piano por cima de teclas grãos vários
seguidos uns aos outros.
Era assim uma harmonia
entre flor
tempo a querer-se de cor branca em cegar
era assim umas teclas cantarem filhos de grãos
por dentro dos grãos mesmos
unidos que eram em dimensão de lado
era assim um cantar-me o tempo todo
não era assim um cantar-me o tempo todo
era assim um pairar-me
o tempo todo em Nijinsky
o tempo em um fazer-me ballet pelo quarto inteiro
quando eu tinha aberta a cabeça que imagino
da música
Abria a pétala favorita do harém
onde no centro um sultão da flor
no centro que era o amarelo da flor
abria a pétala favorita da flor
e então
e era então que me soava dentro da manhã
do quarto
uma música desfibrada de tempo serôdio
como se tudo me fosse em longe
como se a música levasse longe
o céu.
António Gancho
O Ar da Manhã
Assírio & Alvim, 2006
eu abria o aparelho
era uma flor branca que eu abria
de sopro
eu soprava e eu abria a flor
A flor tocava música com as várias mãos
das pétalas
A flor tocava uma simbolização dum tempo
caído podre de espera de cor branca
O tempo espera-se em pintar-se
de branco
para cegar uma cor
mas a minha flor abria-se de
pétalas
e as várias mãos escreviam um
piano por cima de teclas grãos vários
seguidos uns aos outros.
Era assim uma harmonia
entre flor
tempo a querer-se de cor branca em cegar
era assim umas teclas cantarem filhos de grãos
por dentro dos grãos mesmos
unidos que eram em dimensão de lado
era assim um cantar-me o tempo todo
não era assim um cantar-me o tempo todo
era assim um pairar-me
o tempo todo em Nijinsky
o tempo em um fazer-me ballet pelo quarto inteiro
quando eu tinha aberta a cabeça que imagino
da música
Abria a pétala favorita do harém
onde no centro um sultão da flor
no centro que era o amarelo da flor
abria a pétala favorita da flor
e então
e era então que me soava dentro da manhã
do quarto
uma música desfibrada de tempo serôdio
como se tudo me fosse em longe
como se a música levasse longe
o céu.
António Gancho
O Ar da Manhã
Assírio & Alvim, 2006
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