Dois em Norfolk

Aparem a relva do cemitério, pretos,
Estudem os símbolos e os requiescats,
Mas deixem uma cama sob os mirtos.
Este esqueleto teve uma filha e esse um filho.

No seu tempo, este aqui teve pouco que contar,
A palavra mais doce apodrecia no seu crânio.
Para ele a lua era sempre na Escandinávia
E a filha dele era uma coisa estrangeira.

E esse aí nunca foi um homem de coração.
Fazer um filho foi só o dever cumprido.
Quando a música do rapaz jorrou como uma fonte,
Louvou a Johann Sebastian, como devia.

As sombras negras das magnólias fúnebres
Estão cheias de canções de Jamanda e Carlota;
O filho e a filha, que vêm chegando das trevas,
Ele para o seio ardente dele e ela para os seus braços.

E os dois nunca se encontram no ar prenhe do Verão
Nem se tocam, mesmo tocando-se tão de perto,
Sem uma saída nos intervalos dos seus beijos.
Façam uma cama e deitem nela os lírios.


Wallace Stevens
Harmónio
Relógio D`Água, 2006
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço

Sem comentários: