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já que sentir é primeiro
quem presta alguma atenção
à sintaxe das coisas
nunca há-de beijar-te por inteiro;

por inteiro ensandecer
enquanto a Primavera está no mundo
o meu sangue aprova,
e beijos são melhor fado
que sabedoria
senhora eu juro por toda a flor: Não chores
- o melhor movimento do meu cérebro vales menos que
o teu palpitar de pálpebras que diz

somos um para o outro: então
ri, reclinada nos meus braços
que a vida não é um parágrafo

E a morte julgo nenhum parêntesis


e.e. cummings
xix poemas
Assírio & Alvim, 1998
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço
algures aonde eu nunca viajei, alegremente além de
qualquer experiência, os teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frouxo há coisas que me prendem,
ou que não posso tocar de tão próximas que estão

o teu mínimo olhar há-de facilmente desprender-me
embora eu me tenha cerrado como dedos,
tu sempre me abres pétala a pétala como abre a Primavera
(tocando hábil, misteriosamente) a primeira rosa

mas se teu desejo for encerrar-me,eu e
minha vida fecharemos em beleza,de repente,
como quando o coração desta flor imagina
a neve em tudo cuidadosa descendo;

nada do que existe para ser sentido neste mundo iguala
o poder da tua extrema fragilidade: cuja textura
me submete com a cor dos seus domínios,
representando a morte e para sempre em cada alento

(eu não sei o que é que há em ti que fecha
e abre;apenas alguma coisa em mim entende
a voz dos teus olhos mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem tão finas mãos


e.e. cummings
xix poemas
Assírio & Alvim, 1998
Tradução de Jorge Fazenda Lourenço

estas crianças que cantam em pedra um

estas crianças que cantam em pedra um
silêncio de pedra estes
pequenitos envoltos em flores
de pedra que se abrem para

sempre estes silenciosamente pe
quenitos são pétalas
a canção deles é uma flor de
sempre as suas flores

de pedra
cantam silenciosamente
um canto mais silencioso
que o silêncio estas sempre

crianças para sempre
que cantam grinaldas de flores
cantares crianças de
pedra com olhos

a florir
sabem se uma
pe quena
árvore escuta

para sempre crianças que cantam para sempre
um canto feito
de silêncio como pedra silêncio de
canto



e.e. cummings
in Leituras: Poemas do Inglês
Relógio d'Água, 1993
Tradução de João Ferreira Duarte

A função do amor é fabricar desconhecimento

a função do amor é fabricar desconhecimento

(o conhecido não tem desejo; mas todo o amor é desejar)
embora se viva às avessas, o idêntico sufoque o uno
a verdade se confunda com o facto,os peixes se gabem de pescar

e os homens sejam apanhados pelos vermes (o amor pode não se
importar
se o tempo troteia, a luz declina, os limites vergam
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
— o medo tem morte menor;e viverá menos quando a morte acabar)

que afortunados são os amantes(cujos seres se submetem
ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver

(que riem e choram) que sonham, criam e matam
enquanto o todo se move; e cada parte permanece quieta:


pode não ser sempre assim; e eu digo
que se os teus lábios, que amei, tocarem
os de outro, e os teus ternos fortes dedos aprisionarem
o seu coração, como o meu não há muito tempo;
se no rosto de outro o teu doce cabelo repousar
naquele silêncio que conheço, ou naquelas
grandiosas contorcidas palavras que, dizendo demasiado,
permanecem desamparadamente diante do espírito ausente;

se assim for, eu digo se assim for —
tu do meu coração, manda-me um recado;
para que possa ir até ele, e tomar as suas mãos,
dizendo, Aceita toda a felicidade de mim.
E então voltarei o rosto, e ouvirei um pássaro
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.



e. e. cummings

Livrodepoemas
Assírio & Alvim, 1999
Tradução de Cecília Rego Pinheiro