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Epicuro na taberna

Encosta a larga barriga
Ao balcão negro da taberna;
E no modo como sorve a jeropiga
(chapéu para a nuca,
Cigarro pendente)
Reconhece no espelho o claro
Entendimento do mundo:
É no gerundo que um verbo se conjuga
E, se um copo não chegar, não esquece,
Há outra nota, dentro da peúga.



Nunes da Rocha
Cancioneiro da Trafaria
&etc, 2009

de "zanaga" do porto brandão

Gosto muito de quintilhas
(e de quartilhos na Taberna da Maluca)
E todas as presilhas
Que sustêm na baiuca
Alívio de tripa e de virilha.

Mas, ah!, hoje fui poeta.
Ultra moderno, neo e experimentalista
(tenho dias assim),
Comi maçã reineta
Enquanto escrevi quinhentista.

Deu­-me logo a volta à tripa
Tanta tarefa conjunta;
E por conta do laxante
(em mares antes sossegados)
Não fui além de Fonte da Telha.

Estava boa a maçã,
Segue um exemplo:

Se tivesse um olho ao peito
(aquando do Armando na taberna)
Ou de quando em vez levasse no estreito
(como o Xavier do Seixal)
E não perdesse uma cultural

No centro em Belém com meus poemas
(todos eles “malditos” em papel couché),
Outro galo cantaria na colóquio­‑tv­‑rádio
(mesa redonda e parlapié),
Sem esquecer a “Voz da Trafaria”.

Mas regresso a casa,
Hoje deu polvo e camarão, está feito o dia.
Insensível ao pôr-­do­-sol
E irritado como um cabrão, digo:
Que se foda a poesia!



Nunes da Rocha
Cancioneiro da Trafaria
&etc, 2009