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Longe e acabado

Não tenho medo de sofás vazios
ficam na sala da minha lembrança
como adereços de uma vida acabada
Desde que te esqueci revive a esperança

Agora tenho outro à porta em certos dias
Deixo-o entrar levo-o para a minha cama
e passo-lhe a mão pelos cabelos
como tu me fazias

Gosto de ti como de um quadro de um poema
que o tempo torna nossos pessoais
Fazes parte de mim e tudo o mais
já está esquecido. Longe e acabado como tu.


Ulla Hahn
A sede entre os limites
Relógio d'Água, 1992
Tradução de João Barrento

Regras do Jogo

Vamos ensaiar a farsa outra vez
os papéis estão sabidos felizmente
que não há mais para dizer
a peça é a mesma de sempre

Os mesmos passos de sempre
até aqui e mais não
os mesmos olhares de sempre
num rosto de outra expressão

As mesmas queixas de sempre
que uma outra boca mente
sempre o mesmo afundamento
num fundo sempre diferente

As mesmas flores de sempre
no primeiro acto para mim
no fim como sempre lágrimas
frescas: desta vez por ti.


Ulla Hahn
A sede entre os limites
Relógio d'Água, 1992
Tradução de João Barrento

Uma rosa é uma rosa

Aberta a ferida
Conseguiste uma vez mais
Olho, vejo:
Carne viva. É
rubra não é
rosa
Só uma obra de arte
é bela
quando sangra
só então é bela
uma obra de arte.



Ulla Hahn
A sede entre os limites
Relógio d'Água, 1992
Tradução de João Barrento

Nua

Para Andrej Tarkowski

A terra está fechada
Nua de maravilhas
Cai neve nas igrejas
Em silêncio nós
Entrançamos o cabelo dos mortos.



Ulla Hahn
A sede entre os limites
Relógio d'Água, 1992
Tradução de João Barrento

Sirene

Acabaram-se os dias de choro arrastados
Eu sei os olhos têm um halo negro e fundo
mas penetram nas coisas de um mundo
que volta a renascer dos anos loucos

O ar cristalizou na longa espera
São dolorosos ainda os movimentos
de inscrever nos dias novos cantos
que só dentro de mim posso encontrar.



Ulla Hahn
A sede entre os limites
Relógio d'Água, 1992
Tradução de João Barrento