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A Justiça, detendo a balança, inclina o prato do conhecimento para os que sofrem.
O futuro conhecê-lo-ás quando acontecer. Até lá aproveita
ou é o mesmo do que gemer antes de tempo,
pois a claridade virá com o raiar da aurora.


Ésquilo
Agamémnon (vv. 250 - 254)
Tradução de J.P. Moreira
Certa vez um homem criou
em sua casa uma cria de leão privada do leite materno mas ainda desejosa de mamar,
no prelúdio da sua vida
era dócil, amiga dos pequenos,
e causa de alegria para os anciãos.
Muitas vezes a seguraram nos braços
como a um recém-nascido
e ela de olhos arregalados postos na mão abanava a cauda com a necessidade do ventre.

Com o passar do tempo mostrou
a natureza herdada de seus pais: como agradecimento aos que a criaram,
juntamente com uma horrenda matança de gado,
preparou sem ser convidada um festim,
a casa ficou manchada de sangue,
uma dor inelutável para os seus habitantes,
uma grande desgraça causadora de muitas mortes:
por vontade de um deus um sacerdote da Ruína foi criado na casa.



Ésquilo

Agamémnon (vv. 717 - 736)
Tradução de J.P. Moreira
(O Coro das Erínias entra tumultuosamente em cena em perseguição de Orestes)

CORIFEU

Óptimo! Cá estão os vestígios claros do nosso homem. Segui as indicações deste denunciante mudo. Como um cão a um veado ferido, assim nós lhe seguimos a pista pelas gotas de sangue. Mas sinto-me extenuada de fatiga e mal posso respirar. Percorri, com o meu rebanho, toda a terra e, em sua perseguição, sobrevoei o mar, num voo sem asas, tão rápida como um barco. Agora ele está para aqui agachado em qualquer parte: o cheiro de sangue humano sorri-me.

CORO

Atenção, dá atenção! Examina bem tudo, não vá ele escapar-se, fugir impune, o assassino de sua mãe!

(as Erínias descobrem Orestes)

Ah! Lá achou ele um novo refúgio: abraçado à estátua duma deusa imortal, quer ser julgado pelo acto de sua mão. Mas não pode ser! Uma vez derramado na terra o sangue materno, ai! não é assim tão fácil trazê-lo de novo às veias. O líquido espalhado no solo perde-se para sempre.
Em troca, ainda vivo, terás de deixar-me sorver a oferenda rubra do teu sangue. Que em ti eu possa saciar a minha sede dessa horrível bebida! E, quando estiveres seco em vida, arrastar-te-ei para debaixo da terra, para sofreres o castigo devido ao horror do matricídio. Lá verás todos os mortais que, impiamente, ofenderam um deus, um hóspede ou os seus progenitores, cada um sujeito à pena que lhe foi imposta pela justiça. É que Hades é o grande juiz dos humanos debaixo da terra e ele tudo vê e inscreve na sua memória.



Ésquilo

Oresteia (excerto da peça)
Edições 70, 1981
Tradução do Professor Doutor Manuel de Oliveira Pulquério
CLITEMNESTRA

Entretanto o homem desaparece e foge para longe: os que não são meus amigos têm quem os proteja!

(Rosnido do Coro)

Realmente, tu dormes demais e não tens dó do meu sofrimento. E Orestes, o assassino da própria mãe, escapa-se...

(Grito do Coro)

Gritas, dormes: levanta-te depressa! Que mais te reserva o destino do que fazer sofrer?

(Grito do Coro)

O sono e o cansaço fizeram uma sólida conjura para esgotar a fúria do terrível dragão.

(Rosnido duplo e estridente do Coro)

CORO

Agarra, agarra, agarra, agarra! Atenção!

CLITEMNESTRA

Persegues um animal em sonhos e ladras como um cão que não larga a preocupação da sua busca. Que estás tu a fazer? Levanta-te, não te deixes vencer pela fadiga nem, amolecida pelo sonho, ignores o mal que nos fazem. Deixa que o teu fígado sinta as minhas justas censuras, que são o aguilhão dos sábios.
E sobre este homem exala o teu hálito sangrento, secando-o ao sopro de fogo que irrompe do teu ventre, segue-o, consome-o numa nova perseguição.



Ésquilo

Oresteia (excerto da peça)
Edições 70, 1981
Tradução do Professor Doutor Manuel de Oliveira Pulquério