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Devo ser algo tonto

Devo ser algo tonto
porque às vezes acontece-me falar sozinho
e dizer coisas loucas,
assim nomes bonitos de miúdas e barcos
ou títulos de livros que ninguém escreveu jamais.
Algo tonto devo ser.


Babo-me, choro e grito.
Os verbos absolutos enchem-me de ternura
e essas vogais soltas, inúteis, redondas,
que voam para nada,
deixam-me boquiaberto e no sétimo céu.


Sou feliz e, daí também, um bocado tonto.


Gabriel Celaya
Tradução A.M.

Às vezes invento que estou apaixonado

Às vezes invento que estou enamorado
e é doce, e é estranho,
embora, visto de fora, seja estúpido e absurdo.

As canções da moda parecem-me bonitas
e sinto-me tão só
que bebo noite fora mais do que é costume.

Apaixonei-me pela Adélia, e pela Marta,
e, alternadamente, por Susanita e Carmen,
e, alternadamente, sou feliz e choro.

Não sou muito inteligente, como se vê,
mas agrada-me saber-me um entre tantos
e em ser vulgarzinho encontro certo descanso.


Gabriel Celaya
Tranquilamente Hablando
(1947)

Tradução A.M.

Biografia

A vida que murmura. A vida aberta.
A vida sorridente e sempre inquieta.
A vida que foge, virando a cabeça,
tentadora ou, talvez, apenas miúda travessa.
A vida sem mais. A vida cega,
que quer ser vivida sem maiores consequências,
sem espaventos, sem históricas histerias,
sem dores transcendentes nem alegrias triunfais,
ligeira, apenas ligeira, simplesmente bela
ou lá como soi dizer-se na terra.


Gabriel Celaya
Penúltimos Poemas (1982)
Tradução A.M.

Conselho de morte

Faz a tua casa. Planta uma árvore.
Combate, se és jovem.
E faz amor, ah, sempre!
Mas não olvides no fim fazer com os
teus triunfos aquilo que mais
precisas:
Uma tumba, um refúgio.



Gabriel Celaya
Tradução A.M.