As aves marcam o relevo da maré
e a etnografia das horas
Mudam de estação como de idioma
e ondulam pela areia de uma seara
Emergem de vírgulas interiores
e anunciam uma ortografia madura
entre as linhas de continentes decalcados
a tinta impermanente
Têm uma caligrafia acidental em frente do mar
e uma forma nasalada de dizer
meu pé, minha mãe, meu pão
Escrevem uma carta com sotaque de despedida
uma interrogação quando podia ser a travessia
Tiago Patrício
O livro das aves
Quasi edições, 2009
Prémio Daniel Faria 2009
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As gaivotas-de-patas-amarelas- sobre lisboa
Escolhem o voo mais favorável
para responder à oscilação das marés
e sobrenadar os espaços ocupados
pelo eco litúrgico do trabalho
Tratam os sítios como equinócios,
quando esperam no cais pelas colunas
com a tainha a saltar dos barcos
que eclodem no lastro do vento
E à noite, as gaivotas-de-patas-amarelas
tão soberanamente livres
seduzem as colinas no bico
e transgridem o nome limpo da cidade
Grasnam e afrontam os sítios nasalados
e fazem perguntas inconvenientes
excedem todos os lugares admitidos
e insultam as pedras na imobilidade
Discorrem pelos telhados suspeitos
e lançam gargalhadas como assobios
baralham as fases das ruas enquanto
aceitam convites como promessas
E a cidade demora a recompor-se
a tentar encontrar respostas sensatas
para a rápida devastação por debaixo
das patas das gaivotas descomprometidas
Tiago Patrício
O livro das aves
Quasi edições, 2009
Prémio Daniel Faria 2009
para responder à oscilação das marés
e sobrenadar os espaços ocupados
pelo eco litúrgico do trabalho
Tratam os sítios como equinócios,
quando esperam no cais pelas colunas
com a tainha a saltar dos barcos
que eclodem no lastro do vento
E à noite, as gaivotas-de-patas-amarelas
tão soberanamente livres
seduzem as colinas no bico
e transgridem o nome limpo da cidade
Grasnam e afrontam os sítios nasalados
e fazem perguntas inconvenientes
excedem todos os lugares admitidos
e insultam as pedras na imobilidade
Discorrem pelos telhados suspeitos
e lançam gargalhadas como assobios
baralham as fases das ruas enquanto
aceitam convites como promessas
E a cidade demora a recompor-se
a tentar encontrar respostas sensatas
para a rápida devastação por debaixo
das patas das gaivotas descomprometidas
Tiago Patrício
O livro das aves
Quasi edições, 2009
Prémio Daniel Faria 2009
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