Que costume mais selvagem este de enterrar os mortos! De os matar, de os aniquilar, de apagá-los da terra! É tratá-los com aleive, é negar-lhes a possibilidade de reviverem.
Eu estou sempre à espera que os mortos se levantem, que rompam o ataúde e digam alegremente: porque é que estás a chorar?
Por isso me espanta o enterro. Aferrolham o caixão, enfiam-no na terra, põem-lhe pedras por cima e depois terra, trás, trás, trás, pázada sobre pázada, terrões, pó, pedras, calcando, amaciando, fica-te para aí, daqui é que já não sais.
Dá-me o riso, depois, com as coroas, as flores, o pranto, os beijos derramados. É uma burla: Para que é que o enterraram? Porque não o deixaram de fora até secar, até os ossos nos falarem da sua morte? Ou porque não queimá-lo, ou dá-lo aos animais, ou atirá-lo ao rio?
Havia de haver uma casa de repouso para os mortos, ventilada, limpa, com música e água corrente. Pelo menos dois ou três, em cada dia, erguer-se-iam para viver.
Jaime Sabines
Yuria
1967
Tradução A.M.
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Tia Chofi
Amanheci triste no dia da tua morte, tia Chofi,
mas de tarde fui ao cinema e fiz amor.
Eu não sabia que estavas morta a cem léguas daqui
com teus setenta anos de perpétua virgem,
estendida num catre, estupidamente morta.
Fizeste bem em morrer, tia Chofi,
porque nada fazias, ninguém te ligava,
porque depois da morte da avó, a quem te consagraste,
não tinhas mais que fazer e via-se à légua
que tu querias morrer, mas te aguentavas.
Fizeste bem.
Eu não queria gabar-te como fazem os arrependidos,
porque na tua hora te amei, no lugar exacto,
e sei muito bem o que foste, tão comum, tão singela,
mas pus-me a chorar como uma menina porque tu morreste.
Tão desamparada te sinto,
tão só, sem ninguém que te ajude a dobrar a esquina
ou que te dê um pão.
Aflige-me pensar que estás debaixo da terra
tão fria de Berriozábal,
sozinha, sozinha, terrivelmente sozinha...
Jaime Sabines
Tradução A.M.
mas de tarde fui ao cinema e fiz amor.
Eu não sabia que estavas morta a cem léguas daqui
com teus setenta anos de perpétua virgem,
estendida num catre, estupidamente morta.
Fizeste bem em morrer, tia Chofi,
porque nada fazias, ninguém te ligava,
porque depois da morte da avó, a quem te consagraste,
não tinhas mais que fazer e via-se à légua
que tu querias morrer, mas te aguentavas.
Fizeste bem.
Eu não queria gabar-te como fazem os arrependidos,
porque na tua hora te amei, no lugar exacto,
e sei muito bem o que foste, tão comum, tão singela,
mas pus-me a chorar como uma menina porque tu morreste.
Tão desamparada te sinto,
tão só, sem ninguém que te ajude a dobrar a esquina
ou que te dê um pão.
Aflige-me pensar que estás debaixo da terra
tão fria de Berriozábal,
sozinha, sozinha, terrivelmente sozinha...
Jaime Sabines
Tradução A.M.
A la casa del día
A la casa del día entran gentes y cosas,
yerbas de mal olor,
caballos desvelados,
aires con música,
maniquíes iguales a muchachas;
entramos tú, Tarumba, y yo,
Entra la danza. Entra el sol.
Un agente de seguros de vida
y un Poeta.
Un policía.
Todos vamos a vendernos, Tarumba.
Jaimes Sabines
yerbas de mal olor,
caballos desvelados,
aires con música,
maniquíes iguales a muchachas;
entramos tú, Tarumba, y yo,
Entra la danza. Entra el sol.
Un agente de seguros de vida
y un Poeta.
Un policía.
Todos vamos a vendernos, Tarumba.
Jaimes Sabines
Eu não sei bem
Eu não sei bem, mas suponho
que um homem e uma mulher
um dia se amam,
e vão ficando sós pouco a pouco,
algo no seu coração lhes diz que estão sós,
sós sobre a terra se penetram
e se vão matando um ao outro.
Tudo se faz em silêncio. Como
se faz a luz dentro do olho.
O amor une corpos.
Em silêncio vão-se enchendo um ao outro.
Um dia despertam, sobre braços, e pensam então que sabem tudo.
Vêem-se nus e sabem tudo.
(Eu não sei bem. Suponho)
Jaime Sabines
Tradução A.M.
que um homem e uma mulher
um dia se amam,
e vão ficando sós pouco a pouco,
algo no seu coração lhes diz que estão sós,
sós sobre a terra se penetram
e se vão matando um ao outro.
Tudo se faz em silêncio. Como
se faz a luz dentro do olho.
O amor une corpos.
Em silêncio vão-se enchendo um ao outro.
Um dia despertam, sobre braços, e pensam então que sabem tudo.
Vêem-se nus e sabem tudo.
(Eu não sei bem. Suponho)
Jaime Sabines
Tradução A.M.
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