Os meus cabelos morreram
abraçados às aves.
Entornei-lhes os meus seios
para que vivam de sede.
Catarina Nunes de Almeida
Prefloração
Quasi Edições, 2006
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Avistei a boca ao entardecer.
A língua não vinha nos mapas,
mas no palato agrupavam-se diversas constelações
e pertencia-lhes a ventura dos meus dedos.
Não havia notícias de outros povos
nem sequer uma mácula de cerejas.
Plantei o primeiro seio
a que chamámos macieira
e abandonei o ventre
à generosidade vegetal.
Nessa noite dormimos por dentro e por fora
do mundo.
Catarina Nunes de Almeida
A Metamorfose das Plantas dos Pés
Deriva, 2008
A língua não vinha nos mapas,
mas no palato agrupavam-se diversas constelações
e pertencia-lhes a ventura dos meus dedos.
Não havia notícias de outros povos
nem sequer uma mácula de cerejas.
Plantei o primeiro seio
a que chamámos macieira
e abandonei o ventre
à generosidade vegetal.
Nessa noite dormimos por dentro e por fora
do mundo.
Catarina Nunes de Almeida
A Metamorfose das Plantas dos Pés
Deriva, 2008
Cidra
Aceito o teu álcool como aceito as palavras
as tuas pupilas fotosfera de um sol
onde mergulho. O dorso aguarda a fermentação da maçã
o sumo que transborda do pomar do teu peito.
A boca é um mamilo secreto
entre dois sexos, traz nos lábios a fome dos girassóis.
Não quero o óleo das plantas douradas
quero o caule e a corola quero a raiz
de alguma pena tua que caia no chão.
Aceito a ondulação do açúcar, ave do vinho,
o vinagre do amor que lava o mar.
Enquanto o sol doira o ventre das cearas
eu bebo sem tempo as paisagens da tua infância.
Sentada no colo das macieiras
não sei se me queima se me refresca
a brisa dos moinhos de vento.
Catarina Nunes de Almeida
Prefloração
Quasi Edições, 2006
as tuas pupilas fotosfera de um sol
onde mergulho. O dorso aguarda a fermentação da maçã
o sumo que transborda do pomar do teu peito.
A boca é um mamilo secreto
entre dois sexos, traz nos lábios a fome dos girassóis.
Não quero o óleo das plantas douradas
quero o caule e a corola quero a raiz
de alguma pena tua que caia no chão.
Aceito a ondulação do açúcar, ave do vinho,
o vinagre do amor que lava o mar.
Enquanto o sol doira o ventre das cearas
eu bebo sem tempo as paisagens da tua infância.
Sentada no colo das macieiras
não sei se me queima se me refresca
a brisa dos moinhos de vento.
Catarina Nunes de Almeida
Prefloração
Quasi Edições, 2006
Entardecer
Hoje entardeci mais despida do que antigamente.
Não sei se pelos bosques tão devastados
se pelas bagas que colheste do meu dorso.
À tua sombra todos os amores são silvestres,
só as amoras são frutos impossíveis.
Catarina Nunes de Almeida
Prefloração
Quasi Edições, 2006
Não sei se pelos bosques tão devastados
se pelas bagas que colheste do meu dorso.
À tua sombra todos os amores são silvestres,
só as amoras são frutos impossíveis.
Catarina Nunes de Almeida
Prefloração
Quasi Edições, 2006
A prostituta da rua da glória
Tanges a noite sem saber que a noite
é uma cítara com cordas de ferro
onde os insectos ferem as asas.
O teu canto arranha o azul da chama
e a cidade desperta para a dança:
um labirinto de minotauros
sorvendo o odor do primeiro tango –
um ténue resquício de feno escondido na nuca.
Ainda ontem foi lua cheia no teu ventre.
Sobrou um aquário onde os cegos vêm depenicar
a caspa dos pombos.
Hoje não saías, deixa-te ficar.
Pelos corredores as fêmeas largam o pó
das florestas quentes –
ténues resquícios de feno escondidos na nuca.
Hoje não saías, deixa-te ficar.
Deixa dormir o teu sexo cansado de morrer.
Catarina Nunes de Almeida
Prefloração
Quasi Edições, 2006
é uma cítara com cordas de ferro
onde os insectos ferem as asas.
O teu canto arranha o azul da chama
e a cidade desperta para a dança:
um labirinto de minotauros
sorvendo o odor do primeiro tango –
um ténue resquício de feno escondido na nuca.
Ainda ontem foi lua cheia no teu ventre.
Sobrou um aquário onde os cegos vêm depenicar
a caspa dos pombos.
Hoje não saías, deixa-te ficar.
Pelos corredores as fêmeas largam o pó
das florestas quentes –
ténues resquícios de feno escondidos na nuca.
Hoje não saías, deixa-te ficar.
Deixa dormir o teu sexo cansado de morrer.
Catarina Nunes de Almeida
Prefloração
Quasi Edições, 2006
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