Mostrar mensagens com a etiqueta anna akhmátova. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta anna akhmátova. Mostrar todas as mensagens

Coragem

Nós sabemos o que agora tem valor
e o que se faz na realidade.
A hora da coragem vem até às nossas horas,
e a coragem não nos abandona.
Não é terrível jazer sob as balas mortais,
nem se fica amargurado por perder o tecto,
e nós preservamos-te, língua russa,
grande verbo russo.
Levamos-te livre e pura
e deixamos aos nossos netos,
E da servidão te salvamos
para sempre!

Anna Akhmátova
Poetas Russos
Relógio d'Água, 1995
Tradução de Manuel de Seabra
Disse que não tenho rival.
Para ele não sou uma mulher deste Mundo,
mas um sol de Inverno que traz alegria ao mundo
e uma canção selvagem do país natal.
Quando eu morrer, não ficará triste,
quando me erga não gritará, enlouquecido: «Ressuscita?»
Mas de repente perceberá que é impossível viver
sem sol o corpo e a alma sem canção.
          E depois?



Anna Akhmátova

Poetas Russos
Relógio d'Água, 1995
Tradução de Manuel de Seabra
E o meu coração já não bate
na minha voz, de alegria e tristeza.
Acabou... E o meu canto galopa
para a noite vazia, onde tu já não estás.



Anna Akhmátova

Poetas Russos
Relógio d'Água, 1995
Tradução de Manuel de Seabra

Há na intimidade um limiar sagrado

Há na intimidade um limiar sagrado,
encantamento e paixão não o podem transpor -
mesmo que no silêncio assustador se fundam
os lábios e o coração se rasgue de amor.

Onde a amizade nada pode nem os anos
da felicidade mais sublime e ardente,
onde a alma é livre, e se torna estranha
à vagarosa volúpia e seu langor lento.

Quem corre para o limiar é louco, e quem
o alcançar é ferido de aflição...
Agora compreendes porque já não bate
sob a tua mão em concha o meu coração.



Anna Akhmátova
Só o Sangue Cheira a Sangue
Assírio & Alvim, 2000