Tanges a noite sem saber que a noite
é uma cítara com cordas de ferro
onde os insectos ferem as asas.
O teu canto arranha o azul da chama
e a cidade desperta para a dança:
um labirinto de minotauros
sorvendo o odor do primeiro tango –
um ténue resquício de feno escondido na nuca.
Ainda ontem foi lua cheia no teu ventre.
Sobrou um aquário onde os cegos vêm depenicar
a caspa dos pombos.
Hoje não saías, deixa-te ficar.
Pelos corredores as fêmeas largam o pó
das florestas quentes –
ténues resquícios de feno escondidos na nuca.
Hoje não saías, deixa-te ficar.
Deixa dormir o teu sexo cansado de morrer.
Catarina Nunes de Almeida
Prefloração
Quasi Edições, 2006
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