Carta de um velho quando jovem

Depois do que te disse
descansei

escrevo-te sem endereço
no reverso do que fiz

não escolho as ruas onde moras

paro no verso
nunca atravesso

fecho-me na caixa do correio
à espera que me escrevas

melhor é acampar
no dedo direito deste magro braço d'água
cingido à complicação elementar
de estar vivo.


Boaventura de Sousa
Madison e Outros Lugares
Edições Afrontamento, 1989

2 comentários:

Anónimo disse...

belíssimo poema.

Liliana Gonçalves disse...

sim, gosto muito dele também

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