poema inicial

Tudo renasce num ciclo de fogo
encostado às pedras.
O sol, os degraus, o musgo.
Tudo está emparedado na cal.
A cor das pedras
atravessa um momento de sombra
sempre que os seus pés
sobem a colina.
Há um espaço solto
que foi atribuído aos pássaros.
São eles que habitam a dimensão redonda,
entre os muros,
afugentados pela luz.
Parece que saem da cegueira,
coléricos,
carregando apenas caixas vazias.
É uma construção
que veio do oriente,
desenhada numa placa de estanho.
À noite
essa sombra
com as mãos atadas
desliza pelo barro
mastigando as ervas.
Vai na direcção
do sol da manhã
esconder-se das máquinas
e dos fios.
A sua boca é como um castanheiro.
Por ali passam
os ruídos do vinho: dois homens
matam-se num anfiteatro
e dos seus gritos nascem
as visões do mundo.



Jaime Rocha
Os Que Vão Morrer
Relógio D´Água, 2000

Sem comentários: