1
Voltam da memória com o corpo calvo
estão despidos de medo
animais de refúgio
a construir tocas
fecham a hemorragia da casa
com o pulso nu
os úteros cerzidos no peito
2
Os funerais são o casamento dos mortos
casam sem par no cheiro das flores
vão bonitos até,
elas escondidas de grinaldas
eles viris nas barbas feitas,
jovens no meio das mães em procissão.
3
Morrem entre a carne e o espelho,
perguntam quando vão morrer
as mãos em prega nos abismos
olhos na barragem das lágrimas
a crescerem estrume aos campos
os mortos que nele adubam.
4
No tempo das cerejas as raparigas enfeitam-se
no meio do
chumbo.
5
Guardam nos bolsos as pedras dos calços
altares onde o gado fende as aldeias
a comunhão simples das casas
a cinza a espalhar-se nos estábulos
são uma terça parte do homem,
as mãos escancaradas nos portões fechados
o sol inteiro quebrado a fio no pasto.
6
As rapariguinhas nuas engordam os peixes dos portos.
7
Mantas, marmitas, o longo dos corpos
o cheiro a ferida, a menstruação das irmãs
eles de pé como escoras na noite.
8
Nas ruas estreitas das lages
aninham-se no fim dos animais
os ventres rompidos nas esquinas
as roupas ardidas, a gordura
que movimenta os corpos
nas cinzas do sol.
Alexandre Nave
Columbários & Sangradouros
Quasi Edições, 2003
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