esperança

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...



Mario Quintana
Nova Antologia Poética
Editora Globo, 1998

4 comentários:

bruno vilar disse...

Quintana, o poeta menino feiticeiro.

No mínimo enternecedor. Gosto muito
desta ironia leve e desta simplicidade desarmante.

Poema indelevelmente impresso na inteligência.

Beijo

Liliana Gonçalves disse...

está presente uma ironia que fundida na simplicidade fica gravada na retina dos olhos que passam e permanecem nas palavras

Como o próprio Quintana diz "...os verdadeiros versos não são para embalar
mas para abalar..."

beijo

bruno vilar disse...

Os poemas



"Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti..."

Poucos disto se dão conta. Porque disto depende um "prestar-de-atenção" exímio.

Liliana Gonçalves disse...

hum,

belo, muy belo.

"Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem"


obrigada pela partilha,

beijo