A enorme ferida na cabeça começou a sarar
No início da sétima semana.
Os seus vales escureceram e as suas aldeias sossegaram:
De alegria não me movia nem ousava falar,
Não a curariam os médicos, mas o tempo com a sua perícia paciente.
E continuamente o meu espírito regressava a Tróia.
Após ter navegado pelos mares, de cada vez lutava
Em ambos os lados, partilhando o júbilo da condição
De Helena, e crescendo - para ver Tróia arder -
Como Neoptólemo, esse rapaz obstinado.
Deitado, eu descansava como estas prescristo.
Planeava com os Gregos e fazia sortidas
Diárias com Heitor. Por fim, a minha cama
Transformou-se na tenda de Aquiles, à qual o rústico
Tersitas vinha relatar os inúmeros mortos.
Era eu próprio: sem estar sujeito ao fôlego de outro homem:
O meu único comandante era o inimigo.
E enquanto o cinturão pendia, a espada na bainha,
Tersitas surgia arrastando-se exausto,
Vociferando a morte do meu amigo Pátroclo.
Gritei pelas armas, ergui-me e não cambaleei.
Mas, quando o pensei, a ira da sua nobre dor
Subiu-me à cabeça e, voltando-me, senti
Que toda a minha ferida se abria. De novo
Tive de deixar sarar aqueles vales iluminados pela tempestade.
Thom Gunn
A Destruição do Nada e outros poemas
Relógio d'Água, 1993
Tradução de Maria de Lourdes Guimarães
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