«O que eu desejo,
ó luarenta cidade»,
disse o rio,
«é que ninguém te toque.»
Imóvel, paredes mestras
afundando-se na sombra.
Ruas prolongadas,
abertas em campo grande,
fechadas em poços negros,
por onde tirita, de febre,
um homem.
Eu, rio apreendido,
captado veio d' água
na rede do espírito
que deambula sem norte.
Qualquer parcela de mim
que pouco a pouco se eleva
no nevoeiro nascente
que do rio sobe
e a cidade cobre.
Nenhum pássaro cantou
na madrugada. Eu corri
contra a força de uma vela,
e tu, árvore imóvel.
Som a tempo, respondi
marulhar d' águas nas folhas
caindo no cais deserto
onde se aproxima um homem.
«O que eu desejo,
ó luarenta cidade»,
disse o rio,
«é que ninguém te toque.»
Ruy Cinatti
Tempo da Cidade
Colecção Forma
Editorial Presença, 1996
ó luarenta cidade»,
disse o rio,
«é que ninguém te toque.»
Imóvel, paredes mestras
afundando-se na sombra.
Ruas prolongadas,
abertas em campo grande,
fechadas em poços negros,
por onde tirita, de febre,
um homem.
Eu, rio apreendido,
captado veio d' água
na rede do espírito
que deambula sem norte.
Qualquer parcela de mim
que pouco a pouco se eleva
no nevoeiro nascente
que do rio sobe
e a cidade cobre.
Nenhum pássaro cantou
na madrugada. Eu corri
contra a força de uma vela,
e tu, árvore imóvel.
Som a tempo, respondi
marulhar d' águas nas folhas
caindo no cais deserto
onde se aproxima um homem.
«O que eu desejo,
ó luarenta cidade»,
disse o rio,
«é que ninguém te toque.»
Ruy Cinatti
Tempo da Cidade
Colecção Forma
Editorial Presença, 1996
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