Lou
Lou
Lou, no retrovisor de um breve instante
Lou, não me vês?
Lou, o destino de ficarmos juntos para
__sempre
em que tanto acreditavas
Que é dele?
Não vais ser como as outras que nunca
__mais dão sinal, submergidas no
__silêncio.
Não, uma morte não deve chegar para
__apagar o teu amor.
Na horrível espiral
que te afasta até não sei que milésima
__diluição
procuras ainda, procuras um lugar
__para nós.
Mas tenho medo
Não se tomaram precauções bastantes
Devíamos estar mais informados,
Alguém me escreve que és tu, mártir,
__quem vai velar por mim agora.
Oh! Duvido.
Quando toco o teu fluido tão delicado
__que permanece no quarto e os teus
__objectos familiares que aperto nas
__mãos
esse fluído ténue que tanto urge proteger
Oh, duvido, duvido e tenho medo por ti,
impetuosa e frágil, à mercê das catástrofes
Todavia, vou a repartições, à procura
__de certificados
desperdiçando momentos preciosos
que devíamos gastar connosco
__precipitadamente
ao mesmo tempo que tu tremes de frio
aguardando na tua maravilhosa confiança
__que eu venha ajudar a libertar-te,
pensando «Ele vem de certeza
Teve talvez um contratempo, mas não
__deve tardar
Há-de vir, eu conheço-o
Não vai deixar-me sozinha
Não é possível
não vai deixar sozinha, a sua pobre
__Lou...»
Eu não conhecia a minha vida. A
minha vida passava através de ti. Esse
grande problema complicado tornava-se
simples. Apesar da inquietação, tor-
nava-se simples.
__A tua fraqueza, ao apoiar-se em
mim, dava-me força.


Henri Michaux
Nós dois ainda
Bonecos Rebeldes, 2009
Tradução de Rui Caeiro

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