A caminho

Ao anoitecer levaram o estranho prà câmara mortuária;
Um cheiro a bréu; o sussurro baixo de plátanos vermelhos;
O voo escuro das gralhas; na praça renderam a guarda.
O sol caiu em linhos pretos; sempre de novo volta este
_________________________anoitecer passado.
No quarto ao lado a irmã toca uma sonata de Schubert.
Baixinho o seu sorriso mergulha no poço em ruínas
Que murmura azulado no crepúsculo. Oh! que velha é a
_____________________________nossa raça.
Alguém fala em segredo lá em baixo no jardim; alguém
_______________________abandonou este céu negro.
Na cómoda cheiram maçãs. A avó acende velas de ouro.

Oh, como o Outono é suave. Baixo soam os nossos passos
______________________________no velho parque
Por baixo de altas árvores. Oh, quão grave a face de jacinto
_____________________________do crepúsculo.
A fonte azul a teus pés, secreta a calma rubra da tua boca,
Rodeada de sombra do sono da folhagem, do ouro escuro
__________________________de girassóis já murchos.
As tuas pálpebras estão pesadas de papoila e sonham baixo
______________________________na minha fronte.
Sinos suaves fazem tremer o peito. Nuvem azul,
a tua face caiu em mim no crepúsculo.
Uma canção à guitarra, que soa numa taberna estranha,
Os sabugueiros bravos além, um dia de Novembro há muito
___________________________________passado,
Passos familiares na escada ao crepúsculo, o aspecto
_________________________de traves crestadas,
Uma janela aberta em que ficou uma esperança doce -
Indizível é tudo isto, ó Deus, que abalado se cai de joelhos.

Oh, que escura é esta noite. Uma chama purpúrea
Apagou-se na minha boca. No silêncio
Morre a harpa solitária da alma apavorada.
Deixa lá, quando ébria de vinho a cabeça mergulha na
___________________________________sarjeta.

Georg Trakl
Poemas
O Oiro do Dia, 1981
Antologia, versão portuguesa e introdução de Paulo Quintela

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