Máscaras

O homem com a máscara brincando
Até chegar a hora em que o seu rosto
Partilhava com ele uma só vida:
Já miúdo a história me punha indisposto.

Negava-me a aceitar. Quando crescesse,
Ia mostrar que outra maneira havia:
Que cada máscara, sem dor ou risco,
Como um capuz tirar-se podia.

Fiz disso muito tempo um firme credo.
Escondi, confiante, a minha natureza.
Extinto o fulgor do jogo que eu fazia,
Teria ela a original pureza.

Hoje sou velho, só para admitir:
A história é real. A máscara agarrou-se.
É como habituares-te ao inferno.
Como se olhar vazia cova fosse.



Gerrit Komrij
Contrabando - Uma antologia poética
Assírio & Alvim, 2005
Tradução de Fernando Venâncio

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