Enfim temos

Enfim temos
as duas mãos cheias de luz –
as estrofes da noite, as agitadas
águas batem de novo nas orlas
da margem, no sono cru,
sem olhos, dos animais no canavial
depois do abraço – então
voltamo-nos para a encosta
lá fora, contra o céu
branco que desce
frio sobre o
monte, a cascata de brilhos,
e cristaliza, gelo,
como caído de estrelas.

Na tua fronte
quero viver o pequeno
tempo, esquecido, deixar
passar silencioso
o meu sangue pelo teu coração.


Johannes Bobrowski
Como um respirar: antologia poética
Livros Cotovia, 1990
Tradução de João Barrento

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