Só o frio respira na sala

Só o frio respira na sala.
Teu corpo agora é uma imagem que adoramos.
Diante dele persignamo-nos baixamos a cabeça rezamos
de braços cruzados as mãos atadas atrás das costas
dominando-nos de algum modo
para não cair sobre o vidro
que começa já a embaciar nas bordas.

Alguns lêem as inscrições nos ramos,
teus filhos teus netos tua irmã...
revendo um a um
como se o código de cor das flores
ou da posição de umas e doutras
pudesse trazer uma mensagem tua
agora que tu és uma flor decepada.

Esperamos um sinal teu falamos todos à uma
pedimos-te coisas parecidas.
Aqui estamos
a amar-te
a desejar-te com um desejo quase blasfemo,
o desejo de ter-te entre nós também em corpo vivo
doce carne e sangue nosso.


Miriam Reyes
Tradução A.M.

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