7.

Aquela sombra mexe-se ao sabor do lixo
que é levado pelo movimento das minúsculas
ondas. O homem insiste, procura delinear
os traços daquele corpo, mas o espaço que lhe
pertencia está noutro lugar, debaixo de uma
sebe. O seu peito ficou vazio como uma tábua
pendurada por um cordel. O rosto dela,
vê-o agora reflectido na janela do quarto,
nos vidros que presenciaram os seus braços
no momento da convulsão. Derramando
láudano nos dedos, o rosto a fechar-se dentro
dos cabelos e ele captando esse momento, em
choro, perto da loucura.



Jaime Rocha
Necrophilia
Relógio d'Água, 2010

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