«Je suis réellement d’outre-tombe, et pas de commissions.»
Arthur Rimbaud
Não me trancaram em nenhum sótão tendo eu treze anos, fui euArthur Rimbaud
quem trancou o mundo no exíguo espaço que resta fora desta divisão:
não aceito nada que não me caiba nos pulsos ou que já me circule no
sangue; o máximo que posso é forrar as paredes e o triunfo da solidão
com reproduções fac-similadas de um mapa desenhado em estalagem incerta
por um galego desencantado que no ano da graça de mil quinhentos e setenta
acrescentava porções de terra e mar consoante o estado do seu estômago
ou – fonte bem menos credível – relatos de marinheiros, elidia penínsulas
e arquipélagos para os substituir por extensas áreas azuis de corpos insepultos,
ou apagava civilizações inteiras para colocar a inscrição “terra incógnita”,
supremo gesto de humildade comparticipado por gravuras de monstros amorosos.
Um mundo redutível a meia dúzia de graças e um vago sentido de partida,
eis tudo quanto estou disposto a ceder.
António Ramos Pereira
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