Oboé Submerso

Avara pena, tarda o teu dom
nesta minha hora
de suspirados abandonos.

Um oboé gélido ressoa
alegria de folhas perenes,
não minhas, e esquece;

Em mim anoitece:
a água transborda
sobre as minhas mãos de erva.

Asas oscilam em frágil céu,
efémeras: o coração transmigra
e eu sou deserto

e os dias são escombros



Salvatore Quasimodo/Miguel João Ferreira
Ítaca n.º1
Coisas de Ler, 2010

Sem comentários: