à memória de Bernardo Soares
O mundo dos pequenos funcionários
lembra-nos no fervor o patrão Vasques
e traz aos nossos actos mais diários
a poesia do mundo sem disfarces.
Quando longe do jogo das intrigas
(deram aos nossos dias emoção),
lembramos em agendas mais antigas
o que ficou aquém da ilusão.
Este mundo é perfeito como um ovo
de si suficiente e não merece
poder ser corrompido pelo novo.
Aqui em bom rigor nada acontece.
E vemos flutuar à nossa volta
um rumor sem um eco de revolta.
Luís Filipe Castro Mendes
O Jogo de Fazer Versos
Quetzal, 1994
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