Empurrou os cobertores com dificuldade. As pernas magras, onduladas por cinco dias de repouso, estendiam-se na sua frente. Contemplou-as sem entusiasmo, tentando alisá-las com a palma da mão e, desistindo, sentou-se na beira da cama e levantou-se com esforço. Por causa das pernas tinha perdido uns bons cinco centímetros. Encheu o peito de ar e as costelas estalaram. A pontada deixava marcas. O roupão caía-lhe em longas dobras flácidas sobre as nádegas encovadas. os lábios amolecidos e os dedos inchados já não lhe permitiam tocar pífaro, foi o que ele logo constatou.
Abatido, deixou-se cair sobre uma cadeira com a cabeça entre as mãos. Os seus dedos apalpavam maquinalmente as têmporas e a testa pesada.
Abatido, deixou-se cair sobre uma cadeira com a cabeça entre as mãos. Os seus dedos apalpavam maquinalmente as têmporas e a testa pesada.
Boris Vian
As Formigas
Relógio d'Água, 2004
Tradução de Jaime Rocha
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