"Acorda", disse-lhe ela ao ouvido, as personagens de ferro estavam quebradas no sorriso dela, e o Éden confinou-se à sétima sombra. Disse-lhe que a olhasse nos olhos. Ele pensara que eram castanhos ou verdes, afinal eram azuis marinhos com pestanas pretas, e o cabelo espesso era preto. Ela ondeou-lhe o cabelo, e pôs a mão dele no fundo do seu peito de modo a ele saber que o bico do coração dela era vermelho. Ele olhou-a nos olhos, mas faziam do sol um vidro redondo, e ao afastar-se asperamente ele viu através das árvores transparentes; ela podia fazer de cada árvore um longo cristal, e tornar o bosque da casa em gaze. Ela disse-lhe o nome, mas enquanto falava já ele o esquecia; ela disse-lhe a idade, e era um número novo. "Olha nos meus olhos", disse ela. Só faltava uma hora para a noite literal, as estrelas iam aparecendo e a lua estava pronta. Ela pegou-lhe na mão e levou-o a correr por entre as árvores pelo cume do monte orvalhado, pelas urtigas a florir e as flores fechadas da erva, pelo silêncio até à luz do sol e ao barulho da rebentação na areia e na pedra.
...
Ela correu descuidada sobre a areia e perdeu-se entre o mar. A cara dela era agora uma branca gota de água no aguaceiro horizontal e os seus membros eram brancos como neve e perdidos na branca maré que caminhava. O coração no seu peito era agora um sininho vermelho que tocava dentro duma onda, o cabelo incolor orlava a espuma, e a voz enrolava sobre a água de carne e osso.


Dylan Thomas
Uma Visão do Mar
Vega

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