«Mas ninguém se atrevia a dizer-lhe nada, porque todos o temiam. Sim, na idade em que a maior parte das pessoas se encolhem o mais que podem, como que para se desculparem de continuarem presentes, Louis fazia com que o temessem e comportava-se como bem lhe dava na gana. Até a sua jovem esposa renunciara a forçá-lo a arriar a bandeira, valendo-se da cona, esse ás de trunfo das mulheres novas. Porque sabia o que ele faria caso ela negasse a entreabrir-lha. Mais, Louis ia ao ponto de lhe exigir que lhe facilitasse a tarefa, servindo-se de meios que ela considerava frequentemente exorbitantes. E ao mais pequeno sinal de revolta da parte dela, ele ia ao lavadouro buscar a pá de bater e espancava-a até ela reconsiderar. Diga-se entre parênteses.»
(...)

Samuel Beckett
Malone está a morrer
Dom Quixote, 1993
Tradução de Miguel Serras Pereira

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