Ó Paris
Grande lareira ardente com os tições entrecruzados
    das tuas ruas e velhas casas que se debruçam
    por cima e se aquecem
Como os avós
E eis os anúncios, vermelho, verde, multicolores como
    o meu passado em resumo amarelo
Amarela a cor altiva dos romances da França
    no estrangeiro.
Nas grandes cidades gosto de me meter nos
   autocarros em movimento
Os da linha Saint-Germain-Montmartre levam-me
    ao assalto da Butte
Os motores mugem como touros de ouro
As vacas do crepúsculo pastam o Sacré-Couer
Ó Paris
Estação central cais das vontades cruzamento das
    inquietações
Só os droguistas têm ainda um pouco de luz por cima
   das portas
A Companhia internacional das Carruagem-Camas
    e dos Grandes Expressos Europeus enviou-me
    um prospecto
É a mais bela Igreja do mundo
Tenho amigos que me rodeiam como barreiras
Têm medo quando eu parto que nunca mais volte

Todas as mulheres que conheci erguem-se
    nos horizontes
Com gestos lastimosos e olhares tristes de semáforos
    à chuva
Bela, Inês, Catarina e a mãe do meu filho na Itália
E ainda a mãe do meu amor na América
Há gritos de sirene que me rasgam a alma
Na Manchúria um ventre estremece ainda como num
    parto
Gostaria
Gostaria de nunca ter feito as minhas viagens
Esta noite um grande amor atormenta-me
E contra a minha vontade penso na jovem Joana
    de França.
Foi num noite de tristeza que escrevi este poema
    em sua honra
Joana
A jovem prostituta
Estou triste estou triste
Irei ao Lapin Agile recordar-me da minha juventude
    perdida
E beber copinhos
Depois voltarei sozinho para casa



Blaise Cendrars
Poesia em Viagem
Assírio & Alvim, 2005
Tradução de Liberto Cruz

1 comentário:

Cartões Amantes da Poesia disse...

Ótima sugestão BLAISE CENDRARS (1887-1961)!!!
Eis o tópico dele na cmn Amantes da poesia no Orkut:
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http://www.orkut.com.br/Main?hl=pt-BR&tab=w0#CommMsgs?cmm=18211369&tid=5418766792516405124
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Paz, Luz e Poesias!