«Mas também o que é que têm para dizer jovens escritores, pensei eu, que imaginam saber tudo e que afinal só são capazes de achar tudo ridículo, sem conseguirem justificar por quê ridículo. Disso só se apercebem muito mais tarde, pensei eu; primeiro acham tudo ridículo sem saber por quê, isso são eles, só mais tarde é que sabem por quê, mas então já não o dizem, porque já para isso não têm qualquer razão. Era a gargalhada tola e oca e estúpida inteiramente característica desta juventude dos nossos perversos e estúpidos e perigosos anos oitenta que os dois soltavam, pensei eu. Eles riem às gargalhadas e acham tudo ridículo e ainda nem sequer publicaram um único livro, pensei eu, como tu há trinta anos. Eles só têm a sua gargalhada, nada mais, e dão-se por satisfeitos com essa sua gargalhada. Eles só têm essa gargalhada e toda a catástrofe da vida ainda na sua frente, pensei eu. Eles só têm essa gargalhada e nem sequer uma justificação para ela.»


Thomas Bernhard
Derrubar Árvores
Assírio & Alvim, 2007
Tradução de José A. Palma Caetano

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