Não possuo filosofia em que possa mover-me como o peixe na água ou o pássaro no céu. Tudo em mim é um duelo, um luta travada a cada minuto da vida entre falsas e verdadeiras formas de consolo. Umas não fazem senão aumentar-me a impotência e tornar-me mais fundo o desespero, outras são fonte da temporária libertação. Falsas e verdadeiras! Deveria antes dizer verdadeira, pois só existe um consolação verdadeiramente real: a que me diz que sou um homem livre, um indivíduo inviolável, ser soberano no interior    dos seus limites. 
  Mas a liberdade começa na escravidão e a soberania na dependência. O sinal mais vivo da servidão é o medo de viver. O definitivo sinal da liberdade é o facto de o medo deixar espaço ao gozo tranquilo da independência.
  Dir-se-á que preciso de ser dependente para conhecer o gozo de ser livre! É certamente verdade. À luz dos meus actos, percebo que toda a minha vida parece não ter tido por objectivo senão construir o seu próprio infortúnio: sempre me escravizou o que devia tornar-se livre.


Stig Dagerman
A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer
Fenda, 2004
Versão de Paula Castro & José Daniel Ribeiro

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