A noite no olhar d'artilheiro

A noite no olhar d'artilheiro
abriu o abismo. O vulto que corria
sob andaimes para o tanque
das chamas agita rastilhos
do tufão.

A luz num golpe desfez
folhas falsas.
Acordou.
Dos ombros, em vez de sombra,
pedra fina quase areia caiu.

Amaram-te e nunca mais.

Sem possível aura, foge.
À sombra de ramos mergulha
a semente e o sal dos sonhos.
Nos umbrais as chamas
das comuns encantações.

E se puderes, nega quatro
vezes a solitária
veia destroçada.
O ar da minha à tua boca
noutro chão findou.



Fernando Luís Sampaio

Sólon
Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1987

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