Horácio

1

O arrivista com ódio ao seu bloco de partida.
Com Bruto no poder é democrata.
Morte ao tirano e uma quinta também para mim
Pacifista em Filipos, vai escandindo o terreno.
Depois aprende a lição (ele também), muda
De rumo. Passemos uma esponja por cima de tudo, Augusto.
A quinta
Mecenas lha concede por uma menção nas Odes
Oito espelhos no quarto de dormir e nem mais uma palavra sobre
Bruto.
Abre-se-lhe a porta de entrada nas crestomatias
Aere perennius favorito dos filólogos.

2


Roma a puta de sete tetas.
Louvor do comedimento, mãe dos impérios
Engolida pelos filhos a crescer
Com versos perfeitos - para quê, de resto? -, precisa
Do luxo. Saciado, Horácio canta. O loureiro
A carne o tempera. Veação da Capadócia!
(E a árvore em flor nos montes Albanos!)
Vinte e três punhaladas, a segunda mortal,
Numa carne epiléptica, o que é isso
Comparado com o peido de Priapo na oitava sátira?


Heiner Müller
O anjo do desespero
Relógio D´Água, 1997
Tradução de João Barrento

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