como antigamente, quanto tu não chegavas e havia países a
que chamávamos destinos, hoje, a fuga é por entre flores senis
e pessoas que respondem aos nossos apelos com desculpas
meigas, artifícios de desinteresse, meu querido, fizemos uma
peregrinação às vozes e tornámo-nos mais limpos no seu inte-
rior, encontrámos caminhos que não pensáramos existir, toda-
via não tivemos a coragem de com eles nos confundirmos, no
tempo da separação não identificámos os seus sinais e persis-
timos ainda pela morte um do outro
em casa, a mulher no limiar das suas raivas, sem o futuro a que
chamam destino, alinha, no parapeito da varanda, vasos de
avenca, ódios ofuscantes, eu decidi encerrar todas as salas nas
suas maldições e excluir-me dos seus percursos, para que ou-
ças o telefone retinir no mofo, no calor insalubre da decompo-
sição dos móveis e paredes, das tintas e vidros, entregues a
ninguém os olhar. A casa fechada no exterior da espera
ela pergunta-me: o que queres fazer?
eu respondo: estar tão atento que tudo o que acon-
teça seja, mesmo remoto, um seu sinal
ela diz-me: como deves sofrer
e eu odeio-a, porque vive na vigilância da minha dor, mol-
dando-se à sua orografia
grito-lhe: vai-te embora, emigra para os teus olhos mal-
fazejos, desaparece nessa circular sítio ne-
nhum que me vê.
Rui Nunes
Osculatriz
Relógio D´Água, 1992
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