«Até amanhã, pois, meu caro senhor e compatriota. Não, agora facilmente atina com o caminho; deixo-o nesta ponte. Nunca passo, de noite, numa ponte. É a consequência de um voto. Suponha, no fim de contas, que alguém se atira à água. De duas uma, ou o senhor o segue, para o tirar, e, em tempo de invernia, expõe-se ao pior, ou o abandona à sua sorte e os mergulhos retidos causam por vezes estranhas cãibras. Boa noite! Como? estas damas, por detrás das vidraças? O sonho, meu caro senhor, o sonho com pouco esforço. Estas criaturas perfumam-se com especiarias. Entra-se, elas correm as cortinas e a navegação começa. Os deuses descem sobre os corpos nus e as ilhas vão à deriva, dementes, encimadas por uma cabeleira desgrenhada de palmeiras ao vento. Experimente.»

(...)

Albert Camus
A Queda
Livros do Brasil, s/d
Tradução revista de José Terra

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