A véspera

Milhares de grãos de areia mais pequena,
Rios que ignoram o repouso, neve
Mais delicada que uma sombra, leve
Sombra de qualquer folha, a tão serena
Orla do mar, a momentânea espuma,
Os antigos caminhos do bisonte
E da flecha fiel, um horizonte
E outro, os arrozais e essa bruma,
O cume, os tranquilos minerais,
O Orinoco, o intrincado jogo
Que urdem a terra, a água, o ar, o fogo,
As léguas de submissos animais,
Hão-de afastar da minha a tua mão,
Mas igualmente a noite, o dia vão...



Jorge Luis Borges
in A Moeda de Ferro
Obras Completas, vol. III
Editorial Teorema, 1998
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

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