XVI

Tudo são máquinas, luciferina intenção
de cortar, pela janela, o desenho interrompido,

ou então, tudo são máquinas ainda, quando
a boca se desenha presa às palavras

enunciadas desde o começo da biografia
(que biografia, se só haverá farrapos?):

fantasmas enunciando-se à pressa
e que a cidade se reúne nos muros que a não cingem já.

Tudo são máquinas prestes a incendiar mapas,
a eliminar traços, a apagar vestígios.

«Começará o mundo depois do mundo acabado»,
escreveste no caderno.

É de lixo lírico, a paisagem, humano resíduo.
As máquinas que escrevem, escrevem na pele.

Tudo são máquinas. O mundo irá começar
dentro de momentos, prepara-te.


Luís Quintais
Riscava a palavra dor no quadro negro
Livros Cotovia, 2010

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