Serás, amor,
um longo adeus que não se acaba?
Desde o começo, viver é separar-se.
No primeiro encontro
com a luz, com os lábios,
o coração percebe a angústia
de um dia estar cego e só.
Amor é o atraso milagroso
do seu próprio termo:
é prolongar o facto mágico,
de que um mais um sejam dois,
contra a primeira condenação da vida.
Com beijos,
com a pena e o peito se conquistam,
em afanosas lides, entre gozos
parecidos com brincadeiras,
dias, terras, espaços fabulosos,
isto à grande separação que nos espera,
irmã da morte ou a morte mesma.
Cada beijo perfeito afasta o tempo,
atira-o para trás, alarga o mundo breve
em que é permitido ainda beijar.
Nem no chegar, nem no encontro
tem o amor o seu cume:
ele sente-se é na resistência a separar-se,
despido, altíssimo, tremente.
E a separação não é o momento
em que braços, ou vozes,
se despedem com sinais materiais.
É de antes, de depois.
Se se estreitam as mãos, e se abraça,
não é nunca para apartar-se,
é porque cegamente a alma sente
que a forma possível de estar juntos
é uma despedida longa, clara
e que o mais seguro é o adeus.
Pedro Salinas
Tradução A.M.
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