Chuva de Verão

Pássaros, calem-se,
    nenhuma tarde
me consola, por cima
   da ponte cai a chuva
na minha tristeza, nenhum
    rumor do Verão
me faz mudar,
    nenhum vento
me impede de dormir...

    Amanhã de manhã
não quero ir
    para debaixo de nenhuma árvore,
as minhas pálpebras anseiam pelo sono
    do Inverno e da neve,
quero, à chuva,
    regressar
às folhas
    e às arcadas sombrias.

Pássaros, calem-se, tenho frio,
    a minha sombra
cresce por cima
    da noite
para os bosques,
    aí descansam
sob flores negras
    os mortos,
os mortos errantes.



Thomas Bernhard
Na Terra e no Inferno
Assírio & Alvim, 2000
Tradução de José A. Palma Caetano

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