Sala das mulheres de parto

Mulheres mais pobres de Berlim
- em quarto e meio treze filhos,
reclusas, putas, marginais -
gemem aqui, ventre a torcer-se.
Em parte alguma se uiva assim.
Em parte alguma à dor, desdita,
mais indiferença pode ver-se,
aqui há sempre algo que grita.

«Mulher, avie-se! Tá a perceber?
Não está aqui para o prazer.
Nem deixe as coisas arrastar-se
se nesse aperto vai borrar-se!
Não está aqui para o descanso.
Não vem por si. Dê-lhe um avanço!»
Ei-lo: pequeno e arroxeado.
De mijo e fezes vem untado.

De onze camas, sangue e choro,
sai gemedeira em saudação.
Só de dois olhos rompe um coro
de aleluias que ao céu cão.

Tudo esta peça de carne há-de
conhecer: dor, felicidade.
E se o estertor um dia exala
inda há mais doze nesta sala.



Gottfried Benn
50 poemas
Relógio D'Água, 1998
Tradução de Vasco Graça Moura

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