Deambulações e delírios

Deverei renunciar quando todos clamam
por um sentido de dever
que conduz a reprimir o corpo
de deambulações e delírios?
Embora saiba que só tais derivas
poderiam cauterizar os lanhos?
Corpo,
renunciar a ti,
agora que estás aqui a meu lado,
sem a mordaça das palavras
ou remorsos familiares,
dançando, acariciando e mordendo?
Inclinado e disposto a soletrar
o meu nome,
no entanto, rude se te quero prender,
violento se prometo amor?
Ainda que prefiras as feridas à moral asfixiante,
e antes que a madrugada te persiga
com suas falsas imagens ternas
pegues na mochila e batas com a porta?



Jorge Gomes Miranda
Este Mundo, Sem Abrigo
Relógio D´Água, 2003

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