regresso ao lugar que encontrou o repouso
no meu corpo: a morte é uma terra inacabada:
há ainda por lavrar o campo pedregoso onde os lagartos
consomem o dia com a sua eternidade: sobre as pedras
desenham o calor, a áspera fuga que desorienta os passos;
regresso ao lugar da renúncia: aqui, o início é um momento
do desencontro, e os cardos têm nas folhas a secura
que o vento torna vulto, aqui, nem a ruína ergue a casa
para sua habitação, nem há recanto que não cresça
na trepadeira do pó. E cada pessoa é uma sombra
onde culmina um nome rasurado. Aqui, a ave
é um traço de cegueira, a noite de um golpe
que separa os dois gumes do silêncio



Rui Nunes
Ofício De Vésperas
Relógio D'Água, 2007

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