Jamais vos esquecerei mulheres raparigas - efémeras
entrevistas subitamente no meio da multidão na escadaria no mercado
- com clarões de calor - presságio de bom tempo
- como uma paisagem embelezada pelo seu reflexo no lago
- como uma aparição no espelho
nos esponsais daquilo que é
e daquilo que é apenas pressentido
- no baile
quando a orquestra deixa de tocar
e a aurora coloca nas janelas
círios por acender
jamais vos esquecerei - fonte pura de alegria - vivi também graças aos vossos olhos de corça
graças às bocas que não eram minhas
às mãos castanho-amareladas que escolhiam como se estivessem acariciando peixes de prata
pequena rapariga das Antilhas é de ti que me lembro melhor
não te vi senão uma só vez chez le marchand des journaux
olhei-te mudo retive a respiração - para não te assustar
e durante um instante pensei que - caminhando contigo
teríamos mudado o mundo
Jamais vos esquecerei -
o movimento aturdido das pálpebras
a indescritível inclinação da cabeça
o ninho da palma
na minha memória fiel repito
rostos imutáveis místicos sem nome
e a rosa
nos cabelos negros
entrevistas subitamente no meio da multidão na escadaria no mercado
no dédalo do metro
nas janelas dos automóveis- com clarões de calor - presságio de bom tempo
- como uma paisagem embelezada pelo seu reflexo no lago
- como uma aparição no espelho
nos esponsais daquilo que é
e daquilo que é apenas pressentido
- no baile
quando a orquestra deixa de tocar
e a aurora coloca nas janelas
círios por acender
jamais vos esquecerei - fonte pura de alegria - vivi também graças aos vossos olhos de corça
graças às bocas que não eram minhas
às mãos castanho-amareladas que escolhiam como se estivessem acariciando peixes de prata
pequena rapariga das Antilhas é de ti que me lembro melhor
não te vi senão uma só vez chez le marchand des journaux
olhei-te mudo retive a respiração - para não te assustar
e durante um instante pensei que - caminhando contigo
teríamos mudado o mundo
Jamais vos esquecerei -
o movimento aturdido das pálpebras
a indescritível inclinação da cabeça
o ninho da palma
na minha memória fiel repito
rostos imutáveis místicos sem nome
e a rosa
nos cabelos negros
Zbigniew Herbert
Escolhido pelas estrelas
Assírio & Alvim, 2009
Tradução de Jorge Sousa Braga
Sem comentários:
Enviar um comentário